27 de agosto de 2014

Por que montar uma sociedade de advogados?

Por que montar uma sociedade de advogados? (Uma análise de custos e remuneração sob a ótica das vantagens desta escolha.)

Muitos advogados me perguntam se há vantagem em montar uma efetiva sociedade de advogados.

O receio da maioria é, certamente, o custo gerado por isso, seja por conta da tributação, seja por conta da anuidade extra na OAB. Há também certo receio de a sociedade não dar certo, do ponto de vista da quebra do “affectio societatis”. 
Enquanto isso advogados advogam sozinhos, ou executam acordos ou parcerias de “rateio de custos” do local onde montam seus escritórios (cada um atendendo numa sala e mantendo uma secretária comum), ou até mesmo de parceiros para encaminhar serviços de áreas em que não atua (visando trilhar o esquema de “ganha - ganha”).

Respondendo estas indagações, acredito que é preciso inicialmente definir o seguinte: Quero ficar sozinho? Quero crescer em tamanho e rentabilidade? Estou disposto a ter um ambiente profissional onde não somente a minha opinião terá valor decisório? Isso por que uma sociedade de advogados é um caminho para alcançar outros objetivos que o advogado sozinho não alcançaria, onde haverá dificuldades e facilidades, ônus e bônus. Por outro lado, não se tenha em mente que o sucesso na advocacia é ter um escritório grande, uma sociedade com funcionários, associados, estagiários etc. É uma escolha. E nem todos estão atrelados a esta opção, por simples opção.

Muitos pensam em parcerias. Alguns pensam em divisão de custos do mesmo espaço. Pode até dar certo. O que acho estranho é que são sonhos, objetivos e modos de atuar distintos, cujas forças nem sempre se somam, podendo se anular. Quando houver um parceiro ou oportunidade melhor do que você é capaz de ofertar, talvez seu parceiro simplesmente diga "fui". Na sociedade, o roteiro é outro.

Fui convidado pela OAB SP (36ª Subseção da OAB SP - São José dos Campos) para ministrar a seguinte palestra: “Gerenciamento de sociedade de advogados: equilíbrio e vantagem na remuneração e nos custos”.

Foi por isso que todos os aspectos que apontei nos parágrafos acima vieram à tona. Percebo que realmente não é uma decisão fácil optar, escolher ou caminhar no sentido de constituir uma sociedade de advogados. Não se esqueçam que o nosso livro de “Gestão para Advogados” da Editora Saraiva possui um capítulo específico sobre “Como montar seu escritório de advocacia” e “Como escolher o seu sócio ideal” – talvez seja o primeiro passo para quem assim decida.

E, com essas provocações, estou aqui para escrever sobre isso, sobre o tema daquela palestra, para responder aos advogados interessados: quais as vantagens em termos de custo e remuneração que esperamos ao constituir uma sociedade de advogados. Logicamente este é o centro da questão ao se pensar em abrir qualquer frente de negócio: avaliar o custo e avaliar a rentabilidade. Então, será que compensa montar uma sociedade de advogados? Se você busca alcançar esse perfil para seu escritório, acredito que sim, que compensa. Vejamos alguns motivos.

1 – Visão geral: uma sociedade de advogados ganha na oferta e na força de trabalho e, portanto, na rentabilidade.
Um advogado sozinho consegue ofertar determinado volume X de serviços ao mercado. Logicamente, sozinho, possui uma possibilidade Y de executar serviços e, por fim, possui uma capacidade Z de efetiva força de trabalho. Estes são seus limitadores da sua rentabilidade, pois de nada adiante ter uma oferta vasta de serviços se não tenho como executá-los com minha força de trabalho. É muito provável, inclusive, que para aumentar o volume você tenha que atuar em áreas que não domina tanto, bem como terá comprometida não somente a qualidade do trabalho, mas também a velocidade de entrega. Ou seja, ou você opta em ficar pequeno e manter alinhada a fórmula “Volume x Execução x Força de Trabalho”, sabendo exatamente a rentabilidade possível para manter a qualidade, ou você precisa crescer.


Então, não é possível crescer sozinho, sem riscos para o seu escritório e para a sua fama profissional. Portanto, eis um divisor de águas entre escolher “crescer ou não crescer”.
Agora, com uma sociedade de advogados naturalmente haverá uma soma de esforços naqueles fatores. Com o aumento da oferta de serviços, seguido de maior possibilidade de execução e maior força de trabalho, não há dúvida, haverá mais custo, porém haverá certamente uma maior rentabilidade.

Sem dizer, como dica prática, que ao aumentar a força de trabalho posso direcioná-la a serviços que não prestaria se não estivesse crescido. Um exemplo típico é, no momento em que se está crescendo, utilizar a força de trabalho para tarefas rentáveis. Imagine que sozinho você precise de um estagiário, e com uma sociedade vocês precisem de três estagiários. No começo pode ser que essa força de trabalho esteja ociosa, então, é preciso direcionar isso para algo novo e rentável, como, por exemplo, a atividade de correspondente, de advocacia de apoio. De repente, além de ter estagiários ou associados trabalhando para o interesse direto do escritório, sua equipe pode gerar uma renda diversificada que talvez até pague seus custos. Em resumo, quando você tinha um estagiário você o pagava, agora que tem três, eles se pagam com as atividades extras executadas.

2 – Visão geral: a sociedade gera uma inevitável ferramenta de marketing ao demonstrar abrangência, agilidade, especialidade e qualidade diferenciada, que não se atinge quando se está sozinho.

Não se esqueça, montar uma sociedade não é melhor, nem pior do que advogar sozinho, é uma opção e depende de onde você pretende levar sua advocacia. Porém, é certo que alguns clientes se sentirão atraídos por uma sociedade ao verificarem que há mais de um advogado para atender uma demanda, com reflexos na capacidade técnica, no tempo de execução e nas áreas de atuação, por exemplo.

E ainda, isso fortalecerá as justificativas da formação do seu preço, pois será fácil demonstrar ao cliente quando da oferta dos serviços que você entregará muito mais justamente por que tem um grupo, uma equipe, uma sociedade. Moral da história, do ponto de vista do cliente: “Pague por um, mas leve vários advogados para te atender, um para cada assunto”. Isso agrega valor automaticamente. Diante disso você poderá dizer para qualquer cliente que seu escritório trata de tal assunto, que é possível executar no tempo que ele precisa, demonstrando proteção e gerando confiança na hora de vender o serviço.

3 – Visão geral: a soma de esforços entre os sócios na mesma direção encurtará o tempo de retorno da profissão.

A terceira questão a ser avaliada é o quanto uma sociedade, organizada com propósitos institucionais, com clara definição de missão e visão, diminuirá o tempo de resultado financeiro, de retorno financeiro na profissão. Isso por que sabemos, muitos acreditam que demora muito para se ganhar dinheiro na advocacia. Uma possível saída para encurtar isso é a soma de esforços provenientes da sociedade de advogados.

Realmente, a escolha do sócio ideal leva em conta algumas análises iniciais, porém, todas elas, com o mesmo enfoque: reúna pessoas diferentes para montar o melhor time! Também há no nosso livro da Editora Saraiva “Gestão para Advogados” um capítulo sobre como escolher o sócio ideal. 

Em resumo, é muito importante que cada sócio tenha um perfil focado em diferentes frentes do gerenciamento do escritório: alguém com qualidades ímpares para administrar e gerir as finanças, outro preparado tecnicamente do ponto de vista jurídico e o terceiro com habilidades para a captação de clientes. Em regra, é preciso pensar nisso antes de montar o escritório.

Na sociedade de advogados a estrutura de “sócios/associados/paralegais/estagiários” permitirá diversas ações em conjunto que ampliarão a rentabilidade final do negócio. Isso, como se viu nos dois itens iniciais deste texto, por que aumentará a oferta, a capacidade de trabalho e o resultado, bem como por que haverá um diferencial do marketing do escritório com a oferta de qualidade, especialidade, agilidade e abrangência.

Essa estrutura toda vai permitir ao sócio que possa efetivamente se dedicar à captação de novos clientes através de estratégias de marketing. Quantas vezes por mês você deixou de visitar um amigo, um potencial cliente ou de participar de uma feira de negócios por que estava cheio de serviço e não teve tempo? Se pudesse delegar atividades para um associado ou estagiário ganharia tempo livre para isso (marketing).

Quantas vezes você parou para estudar um tema novo, desenvolver um serviço novo para ofertar aos clientes, se atualizar num curso jurídico ou algo do tipo? Se pudesse delegar atividades, poderia fazer isso de forma a qualificar ainda mais o seu serviço (qualidade).

Quantas vezes você pode dizer que não iria ao escritório naquela manhã, ou que voltaria mais cedo para casa sem se preocupar com os prazos e atendimentos? Se houver uma equipe para se delegar tarefas haverá também um alívio no volume de serviço, no stress gerado e ganho em sua saúde.

Quantas vezes você pensou em montar um novo negócio, aproveitar uma segunda carreira, mas se viu afogado de trabalho no escritório. Com uma sociedade talvez isso se viabilize e você terá sempre um “plano B”, algumas vezes mais rentável que a própria advocacia, pelo menos com mais estabilidade.

Então, não é melhor ter um custo maior na sociedade de advogados, porém ter condições efetivadas de aumentar a rentabilidade e até mesmo para cuidar da saúde e da família?

Sozinho o custo de um associado ou até mesmo de um estagiário pode parecer alto, contudo, nas sociedades isso se dilui, pois a oferta, a capacidade de execução e a força de trabalho contribuem para aumentar a receita e, no final, estes custos estão embutidos no próprio crescimento.

Não há dúvida, entretanto, é preciso planejar. Em nosso livro, acima indicado, há um capítulo específico sobre como criar e implantar um planejamento estratégico em seu escritório. Talvez seja o caminho para iniciar esse plano de ação.

4 – Visão geral: quando estamos atuando em volume temos em mente que é possível diminuir os custos, ou pelo menos controlá-los sem risco.

Para um advogado sozinho comprar uma boa máquina digitalizadora, um bom software de gerenciamento de processos ou manter uma máquina de Xerox dentro do escritório, talvez, seja um custo alto demais. Porém, como vimos acima, a sociedade propicia naturalmente maior rentabilidade e isso se diluirá. O mesmo raciocínio se aplica na contratação de profissionais, na contratação de serviços externos ou mesmo compra de materiais, como a compra de papel mais barato em virtude de comprar em quantidade.

Ao montar a sociedade haverá a incidência de uma nova taxa da OAB. A anuidade devida pela sociedade é um custo, mas também é um investimento. Muitos clientes só contratam serviços se houver emissão de Nota Fiscal, muitos exigem a inscrição da sociedade na OAB. Sem dizer que ao mencionar em seus documentos, em seu site ou no papel timbrado que é uma sociedade de advogados, certamente, melhorará a percepção do escritório pelo cliente, gerando confiança, uma estratégia de marketing. Portanto, pense como marketing e como posicionamento de mercado recolher a anuidade da sociedade de advogados.

Mesmo que todos os serviços sejam tributados, algo que hoje está em torno de 16% do total faturado na Nota Fiscal de Serviços emitida pelo advogado, pense que a partir do ano que vem estaremos os advogados beneficiados pelo Super Simples, numa tabela de 4,5%, portanto, haverá abrupta diminuição do custo tributário sobre nossa atividade, o que é uma vantagem nova a ser considerada.

Aliás, o custo de hoje pode ser o fortalecimento de amanhã. Pense que um advogado associado, caso se apresente como um excelente captador de clientes, ao invés de pretender sair e montar sua própria banca poderá ingressar na sua sociedade, contribuindo com sua força de trabalho como sócio, com sua força comercial de captação e até mesmo pagando o valor das quotas sociais que lhe serão redistribuídas ou criadas com aumento do capital social. Até reter talentos é possível com uma sociedade.

5 – Conclusão:

Montar uma sociedade de advogados significa crescer em vários aspectos. É preciso que essa seja sua opção, sua escolha. É preciso que isso seja reflexo de uma análise criteriosa, bem como seja produto de um planejamento estratégico do início ao fim. Há muitas vantagens diretas e indiretas, sobretudo, em virtude do fato de que ampliando a oferta de serviços certamente se ampliará o resultado financeiro final e, no mesmo sentido, com isso, diluindo custos que até então seriam impossíveis de se pagar. É um ciclo. Vamos empreender?


Grande abraço,

Advocacia Hoje Luis Fernando Rabelo Chacon @LuisFRChacon

3 comentários:

  1. Olá Dr. Luis Fernando, recentemente passei a acompanhar com frequência o blog, e, inicialmente, gostaria de parabenizá-lo pela iniciativa, este espaço é de Grande ajuda para o jovem advogado. Permita-me que me apresente, meu nome é Vinícius, ainda não posso auto denominar-me "advogado", pois estou a cursar - regularmente - o 10º termo do curso de Direito, apesar disso, já obtive a aprovação no XIII Exame de Ordem unificado, aguardando apenas a colação de grau.
    Mais que um comentário, gostaria de elucidar uma dúvida que acabou por insurgir após a leitura de alguns de vossos artigos.
    Como plano de carreira pretendo, no próximo ano, arquitetar uma sociedade de advogados, inicialmente pequena, contando apenas com um sócio; daí o interesse pelos ensinamentos insculpidos no blog.
    A questão é a seguinte: não pude deixar de notar que em vários artigos o Sr. orienta a, de inicialmente, manutenir uma "sociedade informal", isto é, sem o registro do ato constitutivo da sociedade perante a OAB, isto como forma de enxugar despesas (custos de registro e anuidade, por exemplo). Concordo com este posicionamento, pois, para quem está começando, cada despesa é relevante. Por outro lado, creio que é importante a criação da sociedade/escritório e sua solidificação como tal, isto é como ente autônomo, afinal, como o dr. mesmo afirma nesta postagem, a criação do escritório em si, da marca, é importante para o Marketing e para angariar confiança dos clientes, e a consequente evolução do negócio. Não pretendo abrir um escritório para permanecer no ostracismo, mas sim para construir uma verdadeira "marca jurídica".
    Exposto tudo isso, gostaria que me respondesse a seguinte pergunta: é lícito e/ou possível a estruturação de uma sociedade/escritório inicialmente informal (portanto, sem a criação da pessoa jurídica em si - sem registro perante a OAB) e ainda sim veicular o negócio (dentro dos preceitos éticos) como ente propriamente dito? isto é, colocando o letreiro da sociedade no prédio ( A & L advogados associados, por exemplo), confeccionando cartões de visita do escritório (e não dos advogados que o compõe - Escritório A & L advogados associados, por exemplo), enfim, atuar como escritório (e não como advogados parceiros que "racham" o as despesas), embora não possua o registro perante a OAB?
    Desde já agradeço a presteza.

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    1. Prezado, o contorno ético da questão é mais complicada e não fácil de responder por aqui, porquanto, sugiro se debruce na questão de forma mais apurada. A informalidade não gera sociedade, apenas cria um vínculo de compartilhamento, dividindo despesas... Se puder ajudar com algo mais específico sobre o escritório, por favor, nos acione! Sucesso

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  2. O forte é mais forte só.

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