Por que montar uma sociedade de advogados? (Uma análise de
custos e remuneração sob a ótica das vantagens desta escolha.)
Muitos advogados me perguntam se há vantagem em
montar uma efetiva sociedade de advogados.
O receio da maioria é,
certamente, o custo gerado por isso, seja por conta da tributação, seja por
conta da anuidade extra na OAB. Há também certo receio de a sociedade não dar
certo, do ponto de vista da quebra do “affectio societatis”.
Enquanto isso
advogados advogam sozinhos, ou executam acordos ou parcerias de “rateio de
custos” do local onde montam seus escritórios (cada um atendendo numa sala e
mantendo uma secretária comum), ou até mesmo de parceiros para encaminhar
serviços de áreas em que não atua (visando trilhar o esquema de “ganha -
ganha”).
Respondendo estas indagações,
acredito que é preciso inicialmente definir o seguinte: Quero ficar sozinho?
Quero crescer em tamanho e rentabilidade? Estou disposto a ter um ambiente
profissional onde não somente a minha opinião terá valor decisório? Isso por
que uma sociedade de advogados é um caminho para alcançar outros objetivos que
o advogado sozinho não alcançaria, onde haverá dificuldades e facilidades, ônus
e bônus. Por outro lado, não se tenha em mente que o sucesso na advocacia é ter
um escritório grande, uma sociedade com funcionários, associados, estagiários
etc. É uma escolha. E nem todos estão atrelados a esta opção, por simples
opção.
Muitos pensam em parcerias. Alguns pensam em divisão de custos do mesmo espaço. Pode até dar certo. O que acho estranho é que são sonhos, objetivos e modos de atuar distintos, cujas forças nem sempre se somam, podendo se anular. Quando houver um parceiro ou oportunidade melhor do que você é capaz de ofertar, talvez seu parceiro simplesmente diga "fui". Na sociedade, o roteiro é outro.
Fui convidado pela OAB SP (36ª Subseção
da OAB SP - São José dos Campos) para ministrar a seguinte palestra:
“Gerenciamento de sociedade de advogados: equilíbrio e vantagem na remuneração
e nos custos”.
Foi por isso que todos os aspectos que apontei nos parágrafos
acima vieram à tona. Percebo que realmente não é uma decisão fácil optar,
escolher ou caminhar no sentido de constituir uma sociedade de advogados. Não
se esqueçam que o nosso livro de “Gestão para Advogados” da Editora Saraiva
possui um capítulo específico sobre “Como montar seu escritório de advocacia” e
“Como escolher o seu sócio ideal” – talvez seja o primeiro passo para quem
assim decida.
E, com essas provocações, estou
aqui para escrever sobre isso, sobre o tema daquela palestra, para responder
aos advogados interessados: quais as vantagens em termos de custo e remuneração
que esperamos ao constituir uma sociedade de advogados. Logicamente este é o
centro da questão ao se pensar em abrir qualquer frente de negócio: avaliar o custo
e avaliar a rentabilidade. Então, será que compensa montar uma sociedade de
advogados? Se você busca alcançar esse perfil para seu escritório, acredito que
sim, que compensa. Vejamos alguns motivos.
1 – Visão geral: uma sociedade de advogados ganha na oferta e
na força de trabalho e, portanto, na rentabilidade.
Um advogado sozinho consegue
ofertar determinado volume X de serviços ao mercado. Logicamente, sozinho,
possui uma possibilidade Y de executar serviços e, por fim, possui uma capacidade
Z de efetiva força de trabalho. Estes são seus limitadores da sua
rentabilidade, pois de nada adiante ter uma oferta vasta de serviços se não
tenho como executá-los com minha força de trabalho. É muito provável,
inclusive, que para aumentar o volume você tenha que atuar em áreas que não
domina tanto, bem como terá comprometida não somente a qualidade do trabalho,
mas também a velocidade de entrega. Ou seja, ou você opta em ficar pequeno e
manter alinhada a fórmula “Volume x Execução x Força de Trabalho”, sabendo
exatamente a rentabilidade possível para manter a qualidade, ou você precisa
crescer.
Então, não é possível crescer sozinho,
sem riscos para o seu escritório e para a sua fama profissional. Portanto, eis
um divisor de águas entre escolher “crescer ou não crescer”.
Agora, com uma sociedade de
advogados naturalmente haverá uma soma de esforços naqueles fatores. Com o
aumento da oferta de serviços, seguido de maior possibilidade de execução e
maior força de trabalho, não há dúvida, haverá mais custo, porém haverá
certamente uma maior rentabilidade.
Sem dizer, como dica prática, que
ao aumentar a força de trabalho posso direcioná-la a serviços que não prestaria
se não estivesse crescido. Um exemplo típico é, no momento em que se está
crescendo, utilizar a força de trabalho para tarefas rentáveis. Imagine que
sozinho você precise de um estagiário, e com uma sociedade vocês precisem de
três estagiários. No começo pode ser que essa força de trabalho esteja ociosa,
então, é preciso direcionar isso para algo novo e rentável, como, por exemplo,
a atividade de correspondente, de advocacia de apoio. De repente, além de ter
estagiários ou associados trabalhando para o interesse direto do escritório,
sua equipe pode gerar uma renda diversificada que talvez até pague seus custos.
Em resumo, quando você tinha um estagiário você o pagava, agora que tem três,
eles se pagam com as atividades extras executadas.
2 – Visão geral: a sociedade gera uma inevitável ferramenta
de marketing ao demonstrar abrangência, agilidade, especialidade e qualidade
diferenciada, que não se atinge quando se está sozinho.
Não se esqueça, montar uma
sociedade não é melhor, nem pior do que advogar sozinho, é uma opção e depende
de onde você pretende levar sua advocacia. Porém, é certo que alguns clientes se
sentirão atraídos por uma sociedade ao verificarem que há mais de um advogado para
atender uma demanda, com reflexos na capacidade técnica, no tempo de execução e
nas áreas de atuação, por exemplo.
E ainda, isso fortalecerá as
justificativas da formação do seu preço, pois será fácil demonstrar ao cliente
quando da oferta dos serviços que você entregará muito mais justamente por que
tem um grupo, uma equipe, uma sociedade. Moral da história, do ponto de vista
do cliente: “Pague por um, mas leve vários advogados para te atender, um para
cada assunto”. Isso agrega valor automaticamente. Diante disso você poderá
dizer para qualquer cliente que seu escritório trata de tal assunto, que é
possível executar no tempo que ele precisa, demonstrando proteção e gerando
confiança na hora de vender o serviço.
3 – Visão geral: a soma de esforços entre os sócios na mesma
direção encurtará o tempo de retorno da profissão.
A terceira questão a ser avaliada
é o quanto uma sociedade, organizada com propósitos institucionais, com clara
definição de missão e visão, diminuirá o tempo de resultado financeiro, de
retorno financeiro na profissão. Isso por que sabemos, muitos acreditam que
demora muito para se ganhar dinheiro na advocacia. Uma possível saída para
encurtar isso é a soma de esforços provenientes da sociedade de advogados.
Realmente, a escolha do sócio
ideal leva em conta algumas análises iniciais, porém, todas elas, com o mesmo
enfoque: reúna pessoas diferentes para montar o melhor time! Também há no nosso
livro da Editora Saraiva “Gestão para Advogados” um capítulo sobre como
escolher o sócio ideal.
Em resumo, é muito importante que cada sócio tenha um
perfil focado em diferentes frentes do gerenciamento do escritório: alguém com
qualidades ímpares para administrar e gerir as finanças, outro preparado
tecnicamente do ponto de vista jurídico e o terceiro com habilidades para a
captação de clientes. Em regra, é preciso pensar nisso antes de montar o
escritório.
Na sociedade de advogados a
estrutura de “sócios/associados/paralegais/estagiários” permitirá diversas
ações em conjunto que ampliarão a rentabilidade final do negócio. Isso, como se
viu nos dois itens iniciais deste texto, por que aumentará a oferta, a
capacidade de trabalho e o resultado, bem como por que haverá um diferencial do
marketing do escritório com a oferta de qualidade, especialidade, agilidade e
abrangência.
Essa estrutura toda vai permitir
ao sócio que possa efetivamente se dedicar à captação de novos clientes através
de estratégias de marketing. Quantas vezes por mês você deixou de visitar um
amigo, um potencial cliente ou de participar de uma feira de negócios por que
estava cheio de serviço e não teve tempo? Se pudesse delegar atividades para um
associado ou estagiário ganharia tempo livre para isso (marketing).
Quantas vezes você parou para
estudar um tema novo, desenvolver um serviço novo para ofertar aos clientes, se
atualizar num curso jurídico ou algo do tipo? Se pudesse delegar atividades,
poderia fazer isso de forma a qualificar ainda mais o seu serviço (qualidade).
Quantas vezes você pode dizer que
não iria ao escritório naquela manhã, ou que voltaria mais cedo para casa sem
se preocupar com os prazos e atendimentos? Se houver uma equipe para se delegar
tarefas haverá também um alívio no volume de serviço, no stress gerado e ganho
em sua saúde.
Quantas vezes você pensou em
montar um novo negócio, aproveitar uma segunda carreira, mas se viu afogado de
trabalho no escritório. Com uma sociedade talvez isso se viabilize e você terá
sempre um “plano B”, algumas vezes mais rentável que a própria advocacia, pelo
menos com mais estabilidade.
Então, não é melhor ter um custo
maior na sociedade de advogados, porém ter condições efetivadas de aumentar a
rentabilidade e até mesmo para cuidar da saúde e da família?
Sozinho o custo de um associado
ou até mesmo de um estagiário pode parecer alto, contudo, nas sociedades isso
se dilui, pois a oferta, a capacidade de execução e a força de trabalho
contribuem para aumentar a receita e, no final, estes custos estão embutidos no
próprio crescimento.
Não há dúvida, entretanto, é
preciso planejar. Em nosso livro, acima indicado, há um capítulo específico
sobre como criar e implantar um planejamento estratégico em seu escritório.
Talvez seja o caminho para iniciar esse plano de ação.
4 – Visão geral: quando estamos atuando em volume temos em
mente que é possível diminuir os custos, ou pelo menos controlá-los sem risco.
Para um advogado sozinho comprar
uma boa máquina digitalizadora, um bom software de gerenciamento de processos
ou manter uma máquina de Xerox dentro do escritório, talvez, seja um custo alto
demais. Porém, como vimos acima, a sociedade propicia naturalmente maior
rentabilidade e isso se diluirá. O mesmo raciocínio se aplica na contratação de
profissionais, na contratação de serviços externos ou mesmo compra de
materiais, como a compra de papel mais barato em virtude de comprar em
quantidade.
Ao montar a sociedade haverá a incidência
de uma nova taxa da OAB. A anuidade devida pela sociedade é um custo, mas
também é um investimento. Muitos clientes só contratam serviços se houver
emissão de Nota Fiscal, muitos exigem a inscrição da sociedade na OAB. Sem
dizer que ao mencionar em seus documentos, em seu site ou no papel timbrado que
é uma sociedade de advogados, certamente, melhorará a percepção do escritório
pelo cliente, gerando confiança, uma estratégia de marketing. Portanto, pense
como marketing e como posicionamento de mercado recolher a anuidade da
sociedade de advogados.
Mesmo que todos os serviços sejam
tributados, algo que hoje está em torno de 16% do total faturado na Nota Fiscal
de Serviços emitida pelo advogado, pense que a partir do ano que vem estaremos os
advogados beneficiados pelo Super Simples, numa tabela de 4,5%, portanto,
haverá abrupta diminuição do custo tributário sobre nossa atividade, o que é
uma vantagem nova a ser considerada.
Aliás, o custo de hoje pode ser o
fortalecimento de amanhã. Pense que um advogado associado, caso se apresente
como um excelente captador de clientes, ao invés de pretender sair e montar sua
própria banca poderá ingressar na sua sociedade, contribuindo com sua força de
trabalho como sócio, com sua força comercial de captação e até mesmo pagando o
valor das quotas sociais que lhe serão redistribuídas ou criadas com aumento do
capital social. Até reter talentos é possível com uma sociedade.
5 – Conclusão:
Montar uma sociedade de advogados
significa crescer em vários aspectos. É preciso que essa seja sua opção, sua
escolha. É preciso que isso seja reflexo de uma análise criteriosa, bem como
seja produto de um planejamento estratégico do início ao fim. Há muitas
vantagens diretas e indiretas, sobretudo, em virtude do fato de que ampliando a
oferta de serviços certamente se ampliará o resultado financeiro final e, no
mesmo sentido, com isso, diluindo custos que até então seriam impossíveis de se
pagar. É um ciclo. Vamos empreender?
Grande abraço,
Advocacia Hoje Luis Fernando Rabelo Chacon @LuisFRChacon