26 de abril de 2011

Agora que sou advogado, que caminho seguir?

Caros Leitores,
Hoje recebi um texto. Achei excelente divulgá-lo. Com o atraso na entrega do resultado da 2a fase do Exame da OAB 2010.3, com os boatos de "quando será o próximo exame", retomamos outro assunto relevante: o que fazer depois da faculdade, sendo advogado, que caminho seguir?


"Que caminho seguir? (por Gilmar Vieira Araújo) (@direitodempresa)
Essa é a pergunta que a maioria dos recém-formados fazem. Também é feita por aqueles que ainda não concluíram sua graduação e, também, por aqueles que ainda não decidiram qual faculdade devem ou querem cursar.
Penso que mesmo após a escolha da faculdade, da profissão a ser seguida, a área de atuação ainda não se delimitou. Obviamente que o “leque de opções” já fica reduzido com a escolha da graduação que se cursará, mas a área de atuação geralmente ainda não.
Citarei o meu próprio exemplo e cada um analise sua situação pessoal. Vejamos:
Me formei no final de 2008 como Bacharel em Direito, fui aprovado no primeiro exame de ordem que prestei (137º Exame de Ordem) em SP. Antes que digam que foi sorte, lhes digo que a preparação para que isso acontecesse foi árdua, chegando a 14 horas de estudos diários e muitos dias com somente 2 ou 3 horas de sono. A sorte só aparece para quem está preparado naquele momento. Não podemos colocar todas nossas moedas somente na sorte, é preciso mais, é preciso foco, é preciso afinco nos estudos, é preciso estudar o edital, é preciso estar presente nas aulas (quem ainda está cursando a graduação), enfim, aproveitar e fazer tudo o que está a seu alcance, para que aí sim a sorte possa lhe sorrir.
Passado a OAB, já advogado, terno alinhado, peito estufado, escritório montado, que venham os casos, os processos, as ações, os clientes. CALMA! Não é tão simples e fácil assim. A Advocacia é relação de confiança, confiança entre Advogado e Cliente. Mas, se o caminho a seguir é montar seu escritório, como ter confiança se quase ninguém te conhece? O processo é lento e demorará uns bons anos até você ter a confiança da sociedade e até lá, excluindo aqui os casos daqueles alunos que já estagiam em escritórios e que a aprovação é condição “sine qua nom” para sua efetivação, a clientela é escassa, escassa e muito exigente!
Mas e aí, que fazer? Pois bem, essa é a pergunta que me faço neste momento. A Advocacia sem tempo para dedicação exclusiva, por conta da necessidade de se manter em outra atividade profissional, é algo complicado de se imaginar. Se com dedicação em tempo integral já é algo difícil, imaginem o contrário. Estamos entre a “Cruz e a Espada”!
Preciso me decidir primeiramente o que fazer levando em conta meus gostos pessoais, minhas convicções, minha visão de trabalho e profissional ideal e que quero ser.
Listei as seguintes opções:
1 – Advogado de Empresa;
2 – Trabalhar em escritório de Advocacia ou constituir escritório próprio;
3 – Prestar concurso;
4 – Lecionar.
Vejamos os prós e contras de cada opção:
1 – Advogado de Empresa:
Para conseguir trabalhar em uma empresa tenho dois caminhos: Trainee/Estágio ou experiência. Se conseguir passar no árduo caminho de seleção para Trainee/estágio terei a oportunidade de não somente trabalhar no departamento jurídico, mas também de conhecer toda a estrutura da empresa, setores como produção, logística, gestão de pessoas, marketing, enfim, poderei até descobrir que tenho afinidade ou paixão por uma área diferente da área de formação. Gestão de pessoas, quem sabe?
Posso entrar também por ter experiência em determinada área específica: Contratos, Tributário, Trabalho, Societário, Comercial, Administrativo, enfim, vai depender das necessidades da empresa. Essa é uma opção um pouco distante de minha realidade. Se estou começando agora como posso ter experiência? Três, cinco, sete anos como algumas exigem. Não tive oportunidade de estagiar e se você teve a oportunidade em algum escritório ou empresa em uma determinada área e tem essa experiência, aproveite, seu caminho está mais curto do que você pensa!
Mas a dedicação a uma determinada área se concentra nas grandes empresas, já nas médias e pequenas empresas o conhecimento exigido é amplo, pois normalmente existem um ou dois advogados e que fazem de tudo um pouco. Logo, para trabalhar como Advogado em uma empresa menor terei que dominar Direito do Trabalho, Tributário, Comercial, Societário, Administrativo, Contratos, etc..., tudo junto.
Em ambos os casos precisarei dominar no mínimo uma segunda língua, pois com a globalização das empresas atualmente, é muito provável que tenha que me reportar a sede da empresa que fica nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Chile, China e por ai vai. Logo, se minha opção é trabalhar em uma grande empresa e até mesmo nas médias e pequenas, uma segunda língua não é mais diferencial, é pré-requisito. Assim como eu, muitos outros também não tiveram a oportunidade de começar o estudo de uma segunda língua desde cedo. Mas isso é desculpa? Acredito que não!
Nessa opção a dedicação é quase que exclusiva, senão total, pois com tantas áreas do Direito para dominar, tempo é questão crucial para atualização e entrega de resultados. Soma-se a isso, a necessidade intrínseca de entender de negócios (Marketing, Gestão de Pessoas, Finanças, etc...), mais precisamente do negócio da empresa, o que ela faz, como faz, porque faz, para quem vende, enfim, precisa entender a cadeia de processo, pois somente assim serei capaz de dar respostas jurídicas eficazes para o êxito da empresa.
E ainda, a possível exigência de mudança de cidade, a necessidade de deslocamento constante, realização de audiências, reunião com clientes, discussão de contratos e principalmente a forte pressão por resultados são mais alguns fatores que devo observar se essa for minha escolha profissional.
Já ia me esquecendo da remuneração. Para os Advogados em início de carreira em uma empresa a remuneração fica em torno de R$ 1.000,00 à R$ 4.000,00 reais. Com alguns anos a mais de experiência a remuneração está na faixa de R$ 4.000,00 à R$ 8.000,00 reais. Um gerente jurídico tem uma remuneração na faixa de R$ 10.000,00 à R$ 15.000,00 reais e um Diretor jurídico com bastante experiência e bons anos de empresa pode chegar ao salário de R$ 20.000,00 à R$ 30.000,00 reais, fora os bônus por desempenho. Obviamente que aqui terei que considerar que isso varia de empresa para empresa, principalmente pelo seu porte. Um Diretor jurídico de uma pequena empresa pode ter o salário de R$ 5.000,00/mês e sem direito a bônus.
Muitos desafios, mas seguramente uma opção de carreira dinâmica.
2 – Trabalhar em escritório de Advocacia ou constituir escritório próprio
            Para trabalhar em um escritório é preciso primeiramente ter estudado em uma boa faculdade (De primeira linha). Vejo esse requisito na maioria das publicações de vagas de escritórios em SP. Alguns escritórios publicam ainda que se esse requisito não for atendido o currículo é sumariamente descartado. Não quero aqui entrar no mérito da questão, mas isso é o certo a se fazer? Sem uma boa entrevista, dinâmica de grupo, conversa com os sócios do escritório, acredito que definir a qualidade de um profissional apenas pela faculdade onde se formou seria exagero. Se com todos os instrumentos de avaliação acima já é difícil acertar um perfil, imaginem impondo o pré requisito faculdade de primeira linha para descartar aqueles que não tiveram a oportunidade de estudar em uma boa faculdade, mas que seriam melhores profissionais, persistentes, perspicazes, corajosos e que apenas por causa da faculdade nem tiveram oportunidade de demonstrarem suas qualidades.
            Mas voltando ao cerne da questão, trabalhar em um grande escritório será o mesmo que entrar numa linha de produção, onde atuarei em áreas específicas do direito. Poderei quem sabe, com o passar do tempo migrando de um ramo para outro, adquirindo grande experiência.
            Há aqueles escritórios menores que poderei atuar já em mais de uma área específica, inclusive tendo a oportunidade de ter contato direto com alguns clientes, participar de reuniões, dar pareceres, enfim, não me sentir apenas um robô repetindo de forma mecanizada teses em contencioso de massa.      Há os escritórios butiques que são aqueles onde a especialização é o seu diferencial, diferentemente dos grandes escritórios onde quase todas as áreas do direito são atendidas. São escritórios reconhecidos por sua especificidade e qualidade em sua determinada área. Temos escritórios especializados em Direito Tributário, Fusão e Aquisição, Ambiental, Penal, Administrativo, etc... Para entrar em qualquer um desses o caminho se repete: Estágio ou Experiência.
            Posso conseguir um estágio durante a faculdade e logo após a aprovação no exame de ordem ser efetivado e a partir disso trabalhar como Advogado. Posso entrar também por ter experiência em uma determinada área. Vejo que alguns escritórios preferem até contratar recém formados e que já tenham sido aprovados no exame de ordem, pois acreditam que esses serão profissionais sem vícios, sendo ensinados de acordo com a cultura do escritório.           
            Dependendo da área que escolher não terei dúvidas de que a segunda língua será pré requisito. Muitos escritórios atualmente prestam serviços para empresas estrangeiras. Logo, os contatos e reuniões com esses clientes serão feitos única e exclusivamente utilizando a segunda língua.      No meu caso específico, este requisito está ainda um pouco longe de ser atendido, mesmo que já esteja estudando com afinco, o domínio de uma segunda língua não acontece num passe de mágica. É preciso tempo para assimilar o aprendizado e ainda mais tempo para praticar o aprendizado. Desistir? Obviamente que não!
            Aqui a dedicação também será quase que exclusiva. Sempre será assim? Não! Mas é preciso estar preparado para que isso aconteça quase que constantemente. Quem leu o livro Cartas a um Jovem Advogado, sabe que em um determinado ponto o autor menciona que por causa da assessoria do escritório em um grande negócio de sua cliente, tiveram que passar dias trancados no escritório, inclusive dormindo no escritório. Logicamente neste caso o sigilo da negociação e das informações era condição para que o negócio tenha sido realizado com sucesso, nada podia vazar. Estou citando apenas um exemplo que um grande escritório, mas não penso que seja diferente em escritórios menores, onde por culpa da globalização das transações comerciais, todo e qualquer empresa precise do apoio integral de um escritório de advocacia. O mercado não tem hora e o escritório (Digo, o Advogado) precisa estar ali, pronto para dar respostas eficazes, independentemente da hora. Viagens, reuniões com os clientes, audiências, negociação, discussão de contratos, acompanhamento em diligências, etc..., rotina normal de quem se propõe a trabalhar em um escritório.
            Já para aqueles que escolheram montar o seu próprio escritório, assim como eu, as dificuldades são ampliadas em um sem número de vezes. Não somente precisarei dar conta de solucionar os problemas dos clientes, mas também, gerir administrativamente o escritório.
            Quanto será o aluguel, o telefone, a internet, o sulfite, o toner da impressora, as despesas com combustível, alimentação. Meu Deus! Darei conta de tudo isso? É preciso preparação. Cursos de gestão de escritórios são uma mão na roda para aprender algumas dicas valiosas de como gerir o escritório. É o suficiente? Não! Não é suficiente, pois como disse anteriormente, inicialmente a carteira de clientes não é suficiente para manter todas as despesas do escritório, que mesmo sem demanda o custo se mantém alto.        
Mas e aí o que fazer? Qual caminho seguir? NÃO EXISTE SOLUÇÃO MÁGICA!".

Numa próxima publicação falaremos sobre as duas últimas opções. Mas, antes disso, qual é a sua situação? Que conselho podemos dar aos recém-formados?

Grande abraço!


@LuisFRChacon
Advocacia Hoje Luis Fernando Rabelo Chacon www.cmo.adv.br

3 de abril de 2011

ADVOCACIA: MUITO ALÉM DO EXAME DE ORDEM...

Olá pessoal!


Nos dias 31 de março e 1o de abril estive num encontro nacional sobre educação jurídica promovido pela OAB no Rio de Janeiro (II Seminário de Educação Jurídica). Estive lá na qualidade de Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - U E Lorena (direito unisal).


Com pessoas de renome do cenário jurídico nacional e temas focados na educação jurídica foi um evento muito bom. A presença maciça de profissionais, principalmente, gestores das escolas de direito de todo o país compartilharam experiências, ideias e novidades. Temas que sugeriram o melhor modelo de estrutura do Núcleo Docente Estruturante NDE nos cursos de Graduação em Direito até questões focadas na formação profissional e empregabilidade e, inclusive, com menção acerca do fechamento de vagas em cursos de Direito no país (saiba mais no Portal Exame de Ordem).


Contudo, fica ainda aquela "nova velha" questão: qual é o grande objetivo do Exame de Ordem?


Para retomar esse mesmo assunto sob outra ótica ocorreu-me uma questão durante o evento e gostaria de compartilhar com vocês.


1 - Há uma preocupação rotineira com a qualidade do ensino jurídico, mas a OAB está avaliando o aluno ao final do curso, simplesmente na base teórica do aprendizado (mesmo com a prova prático profissional da segunda fase do exame), sem, contudo, acompanhar e amparar as faculdades (a) durante o processo de ensino-aprendizagem e ou (b) se preocupar com a formação do aluno de Direito para enfrentar os verdadeiros desafios do mercado de trabalho.


Vamos refletir sobre as questões acima expostas.


Podemos responder a letra (a) da primeira questão e dizer: a OAB não se preocupa em apoiar efetivamente o processo de ensino-aprendizagem, faz exigências para abrir/fechar cursos, faz sua peneira no Exame de Ordem, mas durante os 5 anos de aprendizado não oferece para as faculdades de Direito qualquer proximidade que lhes possa ser útil. se o interesse da OAB é a qualidade de ensino, deve se preocupar em controlar também a qualidade durante a formação, não somente antes e depois dela.


Podemos responder a letra (b) da primeira questão e dizer que a OAB está rotineiramente preocupada com o produto final saído dos cursos de Graduação em Direito, mas não usa a mesma força e dedicação para apoiar os advogados no início de carreira. Penso, principalmente, mas não somente, nos advogados do interior dos Estados brasileiros.



Diante dessa segunda questão e avaliando ainda o baixo índice de aprovação no exame de ordem (talvez 75% de alunos não aprovados na média por exame) devemos questionar mais uma vez se estamos preparando estes alunos aprovados no Exame de Ordem para enfrentar o mercado de trabalho. Para tanto, duas questões simples:

i) O aprovado, dentre os 25%, que pretende ser advogado profissional liberal, abrir seu escritório e conquistar seus clientes faz o que após receber sua "carteirinha"? Quando e quem deve ensiná-lo a abrir seu primeiro escritório, a enviar seu currículo em busca de uma vaga, gerenciar o pagamento de suas despesas, investimentos e mesmo cuidar dos prazos processuais?

ii) O aprovado, dentre os 25%, que pretende ser contratado por escritórios ou departamentos jurídicos, aprende o que no currículo e nos temas do Exame de Ordem para que possam alcançar e ter sucesso na obtenção desse emprego após a faculdade?

Hoje, organizações, associações e até mesmo profissionais e empresas de consultoria disseminam em todo o Brasil eventos, cursos, palestras e encontros sobre gestão jurídica, gestão de escritórios etc. Um exemplo, o portal estratégia na advocacia.

Mas, qual é a atuação da OAB nesse sentido!? É tão "efetiva" quanto é a atuação no Exame de Ordem?

Não vi em todo o evento do Rio de Janeiro qualquer menção específica sobre isso de forma que pudéssemos imaginar que a OAB está sim enfatizando não só um controle de qualidade dos bacharéis, mas preocupada também em garantir aos "preparados" um treinamento, um apoio específico no sentido de ter sucesso profissional.



Minha conclusão: se a OAB está, através do Exame, selecionando os melhores bacharéis para atuar com o mínimo de qualidade no mercado de trabalho, deve, também, se preocupar com o apoio durante o processo de ensino-aprendizagem, bem como dar apoio efetivo aos recém-formados, pois só assim a sociedade brasileira receberá qualidade na prestação dos serviços jurídicos, pois o perfil do atual Exame de Ordem somente indica que o profissional tem o mínimo de qualidade teórica para atender a demanda profissional. Contudo, como diz o ditado: na prática a teoria é outra.


O que você acha? Aguardo seus comentários...


Grande abraço,


Advocacia Hoje Luis Fernando Rabelo Chacon www.cmo.adv.br